Os julgamentos dos violadores dos direitos humanos perpetrados durante a última ditadura militar, embora exigidos e apoiados pela grande maioria dos argentinos, irritaram muitos, tanto aqueles que sequestraram, torturaram, assassinaram e desapareceram milhares de compatriotas, incluindo centenas de crianças, quanto aqueles que deram apoio civil ao golpe. A manifestação mais brutal desse descontentamento foi o sequestro e o desaparecimento do pedreiro Jorge Julio López, que se somou ao número macabro de 30.000 desaparecidos entre 1976 e 1983.
Jorge Julio López desapareceu duas vezes. A primeira vez foi entre 1976 e 1979, quando foi sequestrado e sofreu torturas selvagens por policiais e militares na cidade de La Plata. Na época, Miguel Etchecolaz era um chefe de alto escalão da polícia da província de Buenos Aires e responsável por um dos principais centros de detenção e tortura.
Depois que a democracia foi restaurada, o pedreiro Jorge Julio López superou os temores e, corajoso, foi a principal testemunha no julgamento de extermínio que julgou o truculento ex-policial Miguel Etchecolaz e outros 60 militares e policiais e condenou eles à prisão perpétua.
O segundo desaparecimento de Jorge Julio López ocorreu em 18 de setembro de 2006 e nunca mais se soube dele: ele saiu para participar de uma nova audiência desse julgamento e já nunca mais se soube dele.
A principal hipótese é que ele teria sido vítima de vingança por parte dos cúmplices do cruel Miguel Etchecolaz, temerosos de novas declarações contra outros criminosos.
Desde então o governo argentino mantém uma recompensa de mais de 400 mil dólares para quem fornecer informações que levem ao aparecimento de Jorge Julio López, mas as investigações não avançaram e Jorge Julio López é o primeiro desaparecido da Argentina democrática.
Na sequência, ouvimos a sua voz, a de Jorge Julio López, em um fragmento de seu depoimento no julgamento mencionado acima.