Um dos piores exemplos da crueldade desenfreada da última ditadura militar da Argentina completou no sábado mais um aniversário. A data comemorativa lembra quando dez adolescentes de 14 a 18 anos que exigiam tarifas de ônibus mais baratas para estudantes do ensino médio foram sequestrados pelas tropas do exército e pela polícia. Os dez, meninos e meninas, foram abusados e selvagemente torturados. Seis deles nunca apareceram.
Na noite de 16 de setembro de 1976, seis meses após o golpe militar que derrubou o governo constitucional, tropas do exército argentino raptaram de suas casas os dez estudantes do ensino médio - seis meninos e quatro meninas - da cidade de La Plata, capital da província de Buenos Aires. Todos eles estavam estudando no Colegio Normal 3 e tinham exigido o restabelecimento de um desconto, de um passe escolar, eliminado no ano anterior, que beneficiava as tarifas no transporte público dos estudantes.
Os pais e outros parentes dos meninos não pouparam esforços para recuperá-los, mas sem sucesso. O chefe da polícia, Ramón Camps, senhor da vida e da morte e sempre agindo com desprezo pela lei, justificou os múltiplos sequestros no que ele chamou de "ação subversiva nas escolas".
Uma vez restaurada a democracia, o policial Ramón Camps foi condenado por dezenas de assassinatos e desaparecimentos, centenas de casos de tortura e seqüestros extorsivos.
Três dos quatro garotos sobreviventes relataram seu martírio após a queda da ditadura militar em 1983. Seus testemunhos arrepiantes deram conta da selvajaria que todos eles sofreram, particularmente as meninas.
Em memória das seis vítimas desaparecidas, assassinadas pela polícia e militares em diferentes campos de extermínio, a Argentina, já recuperada a sua democracia, decidiu que o dia 16 de setembro, lembrado como "A Noite dos Lápis", deve ser comemorado como o Dia dos Estudantes do Ensino Médio, e eventos comemorativos devem ser realizados em todas as escolas argentinas desse nível.
Texto: Julieta Galván